quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Entrevistando Petter Baiestorf!

O underground nacional tem o seu Papa, o seu John Waters, o seu Messias, enfim...Mister Petter Baiestorf é uma figura, escritor, diretor, fotografo, técnico de efeitos especiais, distribuidor, filosofo ( e dos bons), até teve uma banda de rock pesado e tudo na raça, sem muitos recursos, mas com controle total de sua obra (muito coesa para os padrões nacionais).
Desde 1993, quando nos brindou com sua obra filmada em VHS, “Criaturas Hediondas”, o rapaz não para de produzir, seus filmes vão muito alem da linguagem trash e são capazes de serem filmes para reflexão, em momento nenhum ele passa a idéia de mero divertimento, o que o cara quer mesmo é provocar, e isso ele sabe muito bem.
Fiz uma entrevista descompromissada com ele, e para variar está cheia de pensamentos que ele já mostrara no livro “Manifesto Canibal”, poucas pessoas são tão centradas e tem o intelecto tão instintivo como o cara, veja por você mesmo:

Entrevista





1- Caro Petter, obrigado pela entrevista, pois sei que você não é muito chegado nisso, nesse pseudomainstream, você é um cara mais de ação. E é justamente disso que eu gostaria de falar, ao invés de esperar ajuda do governo, você consolidou um nome em um meio elitizado. Você sente orgulho da sua obra por ter conseguido fazer filmes a margem, como uma conquista pessoal ou pelo que ele representa para os novos realizadores do Brasil, que tem em você um exemplo?

Baiestorf: Claro que me sinto orgulhoso de conseguir fazer filmes completamente independente. Eu sou anarquista, venho do movimento punk, aprendi tudo na base do “faça você mesmo!!!” e estou na ativa à 15 anos sendo uma influência constante na obra de muita gente boa, melhores que eu na maioria das vezes, que foram surgindo nos últimos dez anos. Nada disso foi planejado, sem querer fui o primeiro videomaker brasileiro que aplicou em seus filmes os métodos já usados por bandas e fanzineiros que é da cena que venho, e, de certo modo, continuo até hoje!!! Nem penso nisso na real, meu objetivo é continuar produzindo como posso, fazendo co-produções com outros independentes que tenham ideologias próximas das minhas, tanto aqui do Brasil como de outros países. Hoje em dia tenho espaço em mostra e festivais de filmes, em faculdades e outros lugares não underground, tudo sem mudar uma linha minha ideologia, sempre dando seqüência aos meus ideais e experimentando novas formas narrativas com muita crítica social e deboche. Quando não concordo com algum trabalho eu simplesmente recuso, não me interessa dinheiro ou fama e isso choca muitas pessoas. Acho que a vida é curta demais para ficar fazendo coisas idiotas só para ganhar grana ou fama, prefiro me manter a margem disso e continuar no meu caminho. Tenho muita coisa para fazer ainda, muitas idéias para desenvolver...

2- Em suas obras, os dogmas da sociedade são criticados, avacalhados até.Existe a pretensão de pregar uma filosofia própria?

Baiestorf: Não diria uma filosofia própria porque minha maneira de encarar o mundo vem do movimento punk, dadaísta, pouco do surrealismo e do anarquismo. Escrevo meus roteiros me baseando em idéias próprias desenvolvidas à partir da minha maneira própria de encarar o mundo. Quando co-escrevi o livro “Manifesto Canibal” (em parceria com César Souza) fiz a mesma coisa, coloquei minha visão de mundo na maneira de se pensar e fazer cinema sem dinheiro. Mas não quero ninguém seguindo minhas idéias como se fossem uma cartilha, quero que as pessoas repensem à sua maneira minhas idéias e façam sua própria obra sem mendigar grana com patrocinadores.

3- Sua tentativa de fazer um projeto mais comercial, o filme Zombio, dentro da filsofia “baiestorfiana” claro, foi um tremendo sucesso. Você acha que conseguiria fazer filmes comercias para serem exibidos em cinemas de Shopping, como faz hoje em dia uma de suas influências, o John Waters?

Baiestorf: Fiz “Zombio” e o “Raiva” só prá mostrar que sei fazer filmes mais leves, embora ambos tenham críticas sociais. Atualmente, isso de 2002 prá cá, tenho tentando fazer vários filmes bem diferentes entre si, mas todos contendo os elementos da “filosofia baiestorfiana”, minha idéia é encontrar um termo entre filmes políticos, filmes trash e filmes experimentais. Acho que meus filmes novos, “Arrombada – Vou Mijar Na Porra do seu Túmulo!!!” e “Que Buceta do caralho, pobre só se Fode!!!”, são experiências positivas neste sentido. Com “A Curtição do Avacalho” eu já tinha feito isso, misturei a estética trash ao estilo dos filmes udigrudi brasileiros dos anos 60 e a filosofia anarquista e consegui construir um longa bem interessante que acabou sendo bem aceito em festivais e pelo público pagante. Acredito que “A Curtição do Avacalho” seja um dos meus longas mais radicais e que teve uma aceitação ótima. Mas respondendo sua pergunta, eu não quero fazer cinema de shopping, eu quero colocar essas minhas experiências ao alcance do público que vai ao shopping. O cinema produzido atualmente é burro demais, precisamos fazer filmes difíceis e largar na cara do povo, quem pensar um pouco vai se divertir bastante.

4- Por fim uma pergunta pessoal: Certa vez comentamos sobre o seu desejo de fazer sua visão da historia de Jesus, conte-nos mais sobre esse projeto e em que pé está?

Baiestorf: Esse projeto está abandonado, não mexo nele desde 2000 para ser mais exato. A idéia toda continua na minha cabeça, é completamente diferente de qualquer versão sobre Cristo já apresentada, mas seria um filme que para torna-lo realidade eu teria que ter uma boa grana na mão, penso nuns 500 mil reais, com menos seria impossível começa-lo. Talvez um dia eu arranje algum produtor, mas até lá vou me ocupar de outros projetos e continuar na minha.

Um Abração


Sobre o cara:



Filmografia:



1993- Criaturas Hediondas (de Petter Baiestorf).1994- Criaturas Hediondas 2 (de Petter Baiestorf).1995- O Monstro Legume Do Espaço (de Petter Baiestorf).1996- Eles Comem Sua Carne (de Petter Baiestorf).1996- Caquinha Superstar A Go-Go (de Petter Baiestorf).1996- Blerghhh !!! (de Petter Baiestorf).1996- Bondage (de Uzi Uschi).1997- Bondage 2 (de Suzana Mânica).1997- Super Chacrinha E Seu Amigo Ultra-Shit Em Crise Vs. Deus E O Diabo Na Terra De Glauber Rocha (de Petter Baiestorf).1998- Gore Gore Gays (de Petter Baiestorf).1998- Sacanagens Bestiais Dos Arcanjos Fálicos (de Petter Baiestorf).1998- Bagaceiradas Mexicanas Em Palmitos City (de Uzi Uschi).2001- Raiva (de Petter Baiestorf).2003- Cerveja Atômica (de Petter Baiestorf).2004- Quadrantes (de Coffin Souza).2006- A Curtição Do Avacalho (de Petter Baiestorf).2006- O Monstro Legume Do Espaço 2 (de Petter Baiestorf).



http://www.bulhorgia.com.br/frameset.htm

Um comentário:

Claudia Emilia disse...

Petter eh um gênio.Melhor nem comentar nada,as palavras dele já dizem tudo.